Entrevista a Lauren Lewis

 

Lauren Lewis publicou o seu primeiro livro "Black Heart" em 2019, o primeiro romance e que terá continuação. A autora utiliza também a rede social Instagram para manter contacto com os leitores com quem interage frequentemente.


1. O que a levou a começar a escrever livros?


Comecei a escrever, porque tive necessidade de verbalizar algo que só a escrita era capaz de ouvir; a certeza de que havia algo que só as palavras escritas podiam transparecer.

Desde sempre que a escrita fez parte da minha vida. Durante muito tempo de forma quase secreta. Tudo isto era para mim um patamar onde jamais poderia chegar. Algo demasiado grande para alguém com pouco mais de um metro e meio (em inúmeros sentidos). Mas quando se tornou a única saída, tornou-se também uma grande verdade: «se precisas da escrita para sair do que quer que seja, então escreve.»


2. O que a inspirou a escrever BLACK HEART?

A vida. Um caso próximo de alguém que estava a lutar contra a mente, numa batalha que em certas alturas julguei perdida.

Comecei a escrever BH para essa pessoa, para lhe mostrar que era possível superar a enorme tristeza que lhe causara a vontade de não estar aqui.

Escrevi injetada pela certeza de que o tempo em que ele lia os capítulos era um tempo de anestesia da sua própria tristeza, dos seus próprios demónios. Mais tarde, quis publicar para chegar a outros que vivem na mesma escuridão, que têm os mesmos segredos, que sentem a mesma vontade de não estar aqui.


3. O que a deixa mais vulnerável enquanto escritora?

A sensação de sou (e continuarei a ser) demasiado permeável, morrer quando não escrevo. Não escrever é a minha maior vulnerabilidade. Antes do receio das críticas, do pânico de não ter uma única pessoa que goste das minhas histórias, está esse receio de mim própria, de alguma coisa impedir as minhas mãos de acompanharem o ritmo efusivo com que a minha mente cria histórias.


4. O que é que o sucesso literário significa para si?

Saber que há alguém para quem um livro meu fez toda a diferença.

O sucesso literário tem mais a ver com reconhecimento do que com números de vendas. E cada vez que partilho o meu livro, partilho uma parte enorme de mim, do meu tempo, de toda a minha dedicação, de tudo aquilo em que acredito.


5. Como é que a publicação do seu livro influenciou a sua escrita e a sua vida?

Nós imaginamos um cenário, há uma enorme expectativa antes da saída de cada livro, mas a realidade é um universo muito melhor. Viver o pós-publicação é sempre muito mais bonito do que nos nossos sonhos. Ter leitores, pessoas que leram, pessoas que me dizem sistematicamente que lerão qualquer coisa que eu escreva, que aceitam o desafio de viajar para aquele lugar de onde não saí durante meses… é uma sensação incomportável pelas palavras. Ainda não inventaram a palavra certa para o tipo de felicidade que brota de cada vez que alguém, algures, lê o que já escrevi.


6. Se pudesse ser um personagem dos seus livros qual seria e porquê?

Esta pergunta é difícil, porque para mim qualquer personagem que já construi tem vida própria, tem alma, tem história, só não tem um corpo físico. E eu sou apenas uma espetadora destas vidas tão completas e magníficas. Se fosse uma personagem, seria eu própria, a Lauren que sonha e vive o que só a imaginação permite tornar matéria.


7. Qual o seu livro e autor favorito?

O Monte dos Vendavais da Emily Brönte e o Longe da Multidão de Thomas Hardy.


8. Qual o seu livro favorito enquanto criança?

A Bela e o Monstro. Será sempre o conto de fadas mais bonito de todos os tempos.


9. Que parte do livro removeu durante a edição?

BH-1 resulta da escrita de quatro versões, o que significa que muita coisa se perdeu pelo caminho, dando espaço ao surgimento de coisas novas.

Em BH-2, removi muitas mais, mas valeu a pena, porque o resultado final é muito superior ao que um dia desejei para o final desta história.


10. Qual a parte do livro que foi mais difícil de escrever?

O início da segunda parte de BH-2. Doeu-me mesmo muito, enquanto escritora da versão da Anna Hardy, perceber a verdade física, psicológica e humana do Matthew. Houve muitas alturas em que escrevi a chorar. Falar de suicídio e automutilação foi muito pesado e, em certas alturas, bastante difícil. Cheguei a sentir que não conseguiria terminar.


11. Acreditas no bloqueio criativo?

Não. Acredito no cansaço, nos problemas que nos assolam a mente e o peito, mas não acredito em bloqueios. Quem vive a escrita pode temporariamente parar de andar, mas não muda de caminho.


12. Qual a parte mais difícil do processo artístico?

O receio de me perder, de ficar tão submersa na escuridão que não consiga ver o caminho.


13. Costuma ler as críticas que fazem aos seus livros? Como é que isso o influencia?

Costumo. Faz parte do processo. Tem aspetos positivos e negativos, mas até nas críticas menos boas tento ver onde posso melhorar. E se há algo que sei é que tenho muito para melhorar. Essa certeza enche-me de esperanças de que ainda vou escrever inúmeras histórias.


14. Já pesquisou o seu nome no google?

Sim. (risos)


15. Tem alguma palavra, frase, ou expressão favorita?

A minha palavra preferida passou a ser obrigada. Sou uma pessoa muito agradecida por tudo o que já vivi, por todas as pessoas que conheci, por todos os países que visitei, pelo tanto que já consegui.

A minha frase preferida é: O coração que mais bate é o que escreve (é da minha autoria e é sobre mim própria), representa tudo o que sou, tudo o que quero ser enquanto viver: na escrita, pela escrita, com a escrita.


16. Como escritora, qual acha que é o seu espírito animal?

Uma mistura de Urso – protejo até ao fim as histórias que escrevo – com Águia – gosto do desafio de voar pelo meu próprio mundo e de assistir a tudo o que se passa ao meu redor.


17. Alguma dica para os jovens que se querem iniciar neste ramo?

Nunca desistam. Nunca. Mesmo que seja difícil, mesmo que doa o que escrevem ou dizem sobre nós. Mesmo que o coração fraqueje e doa e sangre… para quem se entrega por inteiro haverá um lugar na escrita. O segredo é não desistir, persistir, continuar a andar. Tentar de novo as vezes que forem precisas. Até acontecer. E quando acontecer? Continuamos a dar o seu melhor de nós intensamente.